segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Experiências de Sofrologia



 


Desporto para Pessoas com Deficiência - como a sofrologia promove a existência destas pessoas?
A Secção de Desporto Adaptado do Futebol Clube do Porto (DA-FCP) foi criada no dia 9 de Dezembro de 1986, numa altura em que o desporto para pessoas com deficiência em Portugal estava a crescer, num contexto de promoção dos direitos humanos, com o objectivo de proporcionar a indivíduos deficientes ou inadaptados, a prática das modalidades desportivas, e igualmente com o intuito competitivo e de inserção dessas mesmas pessoas; foi criada ainda com um cariz social – numa época em que os Órgãos de Poder Central e Local ainda desconheciam a realidade do desporto para pessoas com deficiência.

Foi a 22ª Secção do Clube e desde logo se afirmou como a face mais humana e humanizante do clube, sendo o voluntariado a sua referência mais humanizante.

Desde sempre, tem estado ligada a centros de Ensino Superior, como a FADEUP (Faculdade Desporto da Universidade do Porto) e o ISMAI (Instituto Superior da Maia), dois dos locais onde encontramos brilhantes cidadãos brasileiros quer como estudantes, quer como professores.

Em 1998, a Secção foi galardoada com a MEDALHA DE MÉRITO DESPORTIVO.

Em 2010/2011 a Secção é assim composta: 100 atletas (52-Área mental; 40-área da paralisia cerebral; 5-Motores; 3-Síndrome Down), 2 Dirigentes, 14 Técnicos e 2 colaboradores para Apoio Paramédico.

Oferece as seguintes modalidades: Atletismo, Basquetebol, Boccia, Futebol, Natação, Ténis de Mesa e Yoga.

No DA-FCP, a prática desportiva está presentemente mais associada à reabilitação do que à competição.
Reabilitare significa:
1.      Restituir (a uma pessoa): direitos, honra pública, auto-estima, consideração;
2.      Reparar;
3.      Recuperar a confiança;
4.      Restabelecer funções;
5.      Fazer voltar ao convívio social;
6.      Identidade;
7.      Inclusão;
8.      Testar e ultrapassar os limites;
9.      Participar da mudança.

Os objectivos da secção confirmam a historicidade universal do desporto para deficientes:
·        Desportivos (sucesso desportivo);
·        Terapêuticos (melhoria da auto-estima, gestão da tonicidade muscular, respiração, atenção, concentração e dinamismo);
·        Pedagógicos (comunicação e reforço da vontade);
·        Existenciais (reforço da identidade, reforço da coragem e sentido de vida)
·        Lúdicos (jogos, riso e a dança);
·        Sociais (relacionamento social, convívio, e maior inclusão)
·        Culturais (conhecimento, cultura, arte e a estética)

A Secção é um verdadeiro “JARDIM SAGRADO” pelo ambiente que proporciona aos cidadãos com deficiência: mais segurança, a iniciativa da criatividade, a faculdade da escuta e, mais do que tudo isso, o amor.

No Futebol Clube do Porto, a reabilitação dos cidadãos caracteriza-se pela (e/ou é):
·        LIBERDADE (de serem responsáveis e autónomos; de optarem e decidirem; de serem actores no mundo em que vivem; de vivenciarem a arte, a cultura e a estética);
·         ATITUDE (da coragem de lutarem contra o sofrimento existencial … perante um destino aparentemente imutável…; e pela dignidade no fracasso e na derrota);
·         SINÓNIMO de cuidar da pessoa, indo ao encontro das suas necessidades e dificuldades, visando a sua recuperação e o restabelecimento das funções ou actividades perdidas ou esquecidas, conservando ou reforçando as já recuperadas noutras áreas;
·        ACTO EXISTENCIAL, assente na metodologia fenomenológica, em que cada pessoa ”é única, vista sem preconceitos, e sem a priori ou juízos de valor;
·        FILOSOFIA HUMANISTA – primeiro o homem, depois o atleta
·        O EMBLEMA do FCP é um instrumento de reabilitação que confere ao cidadão com deficiência a identidade (de serem atletas e não “deficientes”), o poder (de se transformarem) e status (plena integração, mundo novo)

·        COMUNICAÇÃO (cinestésica, diacrítica, relacional).

Como escreveu Jacques Salomé:
Cada um de nós… qualquer que seja a sua posição social, as suas opções de vida, as suas ligações, os seus valores/crenças ou as suas fidelidades, acaba por descobrir, um dia… que é um deficiente relacional, um inadaptado na partilha íntima, um deficiente da comunicação próxima, íntima, imediata”.

·        PROCESSO sempre actualizado e em actualização na História do Futebol Clube do Porto;
·        DIALÉTICA permanente, contínua, entre a necessidade do cidadão com deficiência e o tempo histórico…

Ora em todo este processo, a sofrólogo tem um papel determinante, sobretudo em matéria de comunicação. Pelo relaxamento e pela respiração:
(i)                  derruba as “couraças” que impedem o desenvolvimento pleno da personalidade de cada um;
(ii)                potencia a actividade dos sentidos, criando espaço a uma comunicação cinestésica, pura, libertado que seja o Ego, permitindo um relacionamento mais íntimo, onde o diálogo se faz com mais amor e menos abstracção;
(iii)               harmoniza a pulsão oral

Com as técnicas sofrológicas, é possível reabilitar as pessoas, portadoras de deficiência, ou não, conduzindo-as à sua organização mais original (segundo Etchelecou), à organização que lhes confere a consciência exacta de “quem são?”, “o que são?”, “como são?”, “de onde vêm?”, “para onde vão?” – conduzindo-as à identificação mais verdadeira da sua unidade, mas também da sua unicidade.

A Sofrologia, quando praticada diariamente e regularmente, é um “nutriente” de excelente qualidade para “matar a fome” existencial.

Como escreveu Joyce Maynard (in “Os Aromas de Verão” – Labor Day, no seu título original – Porto Editora, Porto (Portugal), 2011):

“Nunca se fala no amor, Henry continuou”. Em todas as discussões sobre partes do corpo, aquela que nunca é referida é o coração. (…)
Existe outro aspecto que o teu professor de Saúde provavelmente não abordará (…). O desejo, disse ela. As pessoas nunca falam sobre o anseio. Fingem que fazer amor tem simplesmente a ver com secreções e funções fisiológicas e a reprodução. Esquecem-se de referir a sensação que provoca (…)
Existe uma outra espécie de fome, disse ela (…) Uma fome de contacto humano (…)”

O trabalho global sobre o corpo, sobre a consciência, sobre a comunicação e em muitos outros aspectos, confere à Sofrologia uma peculiaridade, que não se encontra noutras ciências, quando pretendemos promover e viver no mundo do HUMANO e do AMOR.

Joaquim Hernâni Dias
Master em Sofrologia
Porto/Portugal
Julho/2011



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