sábado, 14 de maio de 2011

Experiências de Sofrologia




Muito se fala da sofrologia… É uma terapia muito forte, e pertinente, na conjuntura socioeconómica actual, sem dúvida.

Dela se fala, quase sempre numa abordagem, em minha opinião, excessivamente teórica, o que dificulta não só o entendimento por parte do comum dos mortais do que é a sofrologia, e consequentemente das suas virtudes, como também a sua expansão tanto na vertente terapêutica, como na vertente pedagógica; ou mesmo na vertente do ensino – enquanto produto objecto de negócio empresarial.

Pela minha parte, defenderei a sofrologia, através das minhas experiências quotidianas com pessoas variadas, circunstâncias múltiplas, e em contextos diversos. Portanto, assumirei uma perspectiva mais prática, deixando espaço à interpelação e ao diálogo sobre as experiências, por parte do leitor, e de todo o interessado.

Há alguns dias atrás fui procurado por uma jovem de 25 anos, solteira, desempregada, à qual, por razões óbvias denominarei de Zita. A jovem é portadora de uma instrução académica média, e gostava de ser fisioterapeuta.

Os pais, ambos professores, estão divorciados, e a jovem vive com a mãe. Embora se encontre frequentes vezes com o pai, ao qual não perdoa ter-se divorciado e tê-las abandonado. Co-habita com a sua mãe.

A Zita vive extremamente ansiosa e é objecto de frequentes ataques de pânico. Diz-se agorafóbica, e claustrofóbica, nalgumas situações – elevadores, comboios, avião… E tem muitos outros medos, de menor intensidade… Tem uma auto-estima muito baixa, nenhuma segurança e muito pouca confiança. Não gosta de se olhar ao espelho, e é pouco bondosa consigo mesma.

A Zita veio ter comigo, após sugestões dos pais nesse sentido.

Na primeira sessão, a Zita embora expressasse abertura e se revelasse colaborante, tal atitude era contrariada pela sua linguagem corporal, expressando defesas afectivas e de comunicação.

Iniciei o trabalho pedagógico-terapêutico com a SOFRONIZAÇÃO DE BASE, depois de explicar à Zita a intencionalidade da sessão: desenvolver a sensibilidade aos métodos da sofrologia, e libertar o corpo e a mente de tensões, de forma a criar harmonia em todo o seu corpo, mente e espírito. O trabalho foi realizado com a Zita deitada, de costas, em posição alongada.

Sem a priori, sem preconceitos, desenvolvi a sessão, muito atento aos sinais que o corpo da Zita pudesse expressar. E foram muitos: contracções dos braços, espasmos nas pernas, ritmo cardíaco acelerado, palpitações oculares… Os braços foram subindo, e com eles as mãos… para cima da parte lateral das coxas… mais para cima, do ventre… pontas dos dedos na zona erógena.

A Zita revelava algum desconforto…mexia…mexia… até parecia que procurava esconder-se… defender-se (não sei de quê?) … recusava a posição de abertura à energia cósmica… de abertura à comunicação… procurava fugir do “aqui e agora”, do presente…

Fiz uma desofronização mais demorada, mais lenta, porque a Zita teve muita dificuldade em assumir o tempo e o espaço em que se encontrava.

No diálogo post-sofrónico a Zita descreveu muito bem as vivências da sessão. Vivências que confirmaram tudo o que acabei de descrever: dores físicas, visualizações intensas, medos…

E neste contexto eu interpelei a Zita sobre a sua consciência do gesto de levar as mãos e os braços para cima do ventre…até à zona erógena… Se tinha dores? O que é que sentia naquela zona? A Zita parou. Fixou-me… Mexeu a cabeça… procurou o céu…

Perguntei-lhe se queria falar… do seu mundo sexual…? Após breves hesitações… A Zita afirmou que essa era uma das vertentes que ultimamente também tinha piorado na sua vida…

Jean-Pierre Hubert (um dos principais animadores da criação da sofrologia, e um dos principais fundadores da Escola de Sofrologia Francesa escreveu :

« durante a sofronização de base, a descoberta de estruturas subjacentes incluindo o acesso ao núcleo psicótico deixa pensar como esta técnica é muito importante e de que maneira cada terapeuta deve ser rigorosamente bem formado antes de a abordar »

Jean-Pierre Hubert disse também que « muitas vezes, antes de se apoiar sobre o positivo, é necessário de deixar emergir o que Caycedo denomina de negativo na psicologia das profundezas. Pela libertação que ela traz, a sofronização de base constituirá o meio mais eficaz de abordar com todas as responsabilidades que ela implica, a psicologia do inconsciente »

A Sociedade Francesa de Sofrologia definiu a Sofronização de Base da seguinte forma :

« o ato pelo qual um terapeuta, dito sofronizador, facilita a uma ou mais pessoas, ditas sofronisadas, e com a sua colaboração, a modificação do seus nível de vigília, a tomada de consciência do seu esquema corporal e o aparecimento de estados psíquicos novos e muito pessoais »

A sofronização, sob a sua forma dinâmica ou estática, engendra uma resolução que tem por efeito a internalização durável, que por seu lado aumenta o bem estar individual e a disponibilidade relacional.

Os fenómenos descobertos na sofronização de base constituem os elementos de partida sobre os quais se apoiarão as técnicas seguintes.

A Sofronização de Base com todas as suas virtudes revelou-se ajustada ao caso da Zita. Foi fundamental para definir todo o trabalho pedagógico e terapêutico seguinte,  durante algumas sessões.

E foi suficiente para dar já algum conforto à Zita… Como dizia Hubert « A Sofronização de Base basta-se a ela-mesma ».


Joaquim Hernâni Dias
Membro da ABS
Master em Sofrologia
Porto/Portugal

Maio-2011



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